Ressignificando a rede de apoio na maternidade
- Carla FERREIRA
- há 5 dias
- 5 min de leitura

Volltei com um assunto que, por muito tempo, foi sensível para mim: a tão falada rede de apoio materna.
Muita gente fala sobre isso, mas o que realmente significa?
Rede de apoio é o conjunto de pessoas, instituições e até recursos que ajudam as mães nas várias dimensões da maternidade. Pode ser um apoio emocional, amigos, familiares, outras mães, escuta, validação, suporte psicológico. Ou pode ser apoio prático, alguém que cuida do bebê por algumas horas, ajuda com a casa, faz compras, cozinha, leva no médico.
Um estudo da Universa (“Estudo Materna: o que pensam e querem as mães”, dezembro de 2023) entrevistou mil mulheres. O dado que mais me chamou atenção: 10% das mães disseram que não têm apoio de ninguém para cuidar dos filhos em caso de necessidade. Entre as casadas ou em união estável, cerca de 30% contam principalmente com as avós para ajudar. Ou seja, há muitas mulheres que, mesmo casadas, vivem a maternidade praticamente sem rede de apoio.
Quando a teoria encontra a prática
Fazendo um recorte dos tempos atuais: rede de apoio familiar ajuda e muito. Afinal, vivemos um cenário em que quase sempre ambos os pais trabalham fora.
Mas e quando você cai fora desses 30% que têm ajuda frequente da família? Foi o meu caso. Antes mesmo de engravidar, eu já sabia que não teria rede de apoio no primeiro ano de vida da minha filha. Meus pais moram na roça, e por outros fatores a família do meu marido não poderia estar tão presente.
Só que uma coisa é saber, e outra é viver.
Minha experiência sem rede de apoio nos primeiros anos da minha filha
Quando minha filha nasceu, eu morava em Campinas. Desde antes da gravidez, já sabia que não teria uma rede de apoio prática nos primeiros momentos, principalmente porque minha família morava longe. Mesmo à distância, contei com o suporte fundamental da minha mãe. Ela me ligava todos os dias, me animava quando o cansaço batia e sempre trazia dicas práticas de como conciliar a nova rotina da maternidade. Ela foi o meu verdadeiro alicerce emocional.
Mas, por outro lado, não tive aquele apoio do tipo: “fica com a sua filha para você descansar um pouco” ou “vou preparar uma sopa para você, já que está amamentando”. Essa presença física e prática fez falta, principalmente nos primeiros meses, quando tudo é novidade e o corpo ainda está se adaptando.
E isso doeu, foi divisor de águas. Por mais perto que algumas pessoas estavam eu sentia ali uma exclusão ...
• Primeiro veio a decepção.
• Depois o rancor.
• Em seguida a sensação de exclusão.
• Por fim, a compreensão: eu não podia esperar que ninguém viesse me acolher.
O choque emocional foi enorme, especialmente quando passamos pela fase do COVID. Meu marido isolado, eu cuidando da Lili, começando introdução alimentar, amamentando e ainda dando conta da casa. Lembro até hoje de uma ligação em que alguém disse: “manda a Carla fazer uma sopa”. Ali eu entendi tudo. Era hora de virar a chave.
E porque da exclusão? era como eu me sentia com algumas pessoas bem próximas, bem familiar.
Quando a maternidade me colocou em “modo sobrevivência”
Aos trancos e barrancos, fui me organizando. A escola da Lili virou parte da minha rede. O delivery de supermercado, também, um casal de vizinho foi meu grande apoio, aos poucos criei cronogramas, ajustei minha mente e fui.
Às vezes, quando a Lili ficava doente, eu precisava me reorganizar completamente no trabalho para dar conta de tudo. Era como equilibrar vários pratinhos ao mesmo tempo. Eu mantinha uma rotina muito organizada: desde o preparo das refeições até os cuidados com ela. Mas quase não pedia ajuda nesse primeiro ano, talvez por insegurança, talvez por já estar emocionalmente fragilizada.
O que fiz foi criar um verdadeiro modo sobrevivência na maternidade.
O lado difícil desse processo é que, sem perceber, construí um muro em volta de mim. Um muro que não deixava espaço para conselhos, apoio ou intervenções. Eu evitava ao máximo, como se precisasse me proteger do mundo. Hoje entendo que aquela barreira era, na verdade, uma forma de resistência, a maneira que encontrei para seguir em frente naquele momento.
E sobrevivi!
Nunca vou esquecer quando minha amiga Gabis me disse: “Crie sua rede, sua rotina. Olha o quanto você é capaz.” Essas palavras ficaram ecoando em mim. Foi um período exaustivo, intenso, cheio de aprendizados e renúncias. Mas, no fundo, era o que eu tinha para me apoiar naquele momento. E, mesmo com todos os desafios, no fim deu certo, encontrei minha própria forma de seguir em frente.
A libertação
Hoje, quando olho para aquela Carla do passado, sinto amor e acolhimento. Eu sei que fiz o meu melhor. Vivi, aprendi, cresci e, acima de tudo, me libertei.
Livre? Sim!
A verdadeira liberdade chegou quando entendi que minha rede de apoio poderia ser construída por mim mesma. Com escolhas conscientes, organização e autocuidado, deixei de esperar dos outros e passei a assumir o protagonismo. Foi nesse momento que comecei a escrever, de fato, a minha própria história de maternidade. E posso afirmar: isso me tornou mais forte do que eu imaginava.
E tem mais uma coisa: hoje eu sei que tenho total controle sobre minhas decisões. Se eu quiser mudar (como já mudei), eu mudo. Se um dia eu decidir ter outro bebê (Deus, olha aqui 👀✨), vou me organizar para dar conta, porque eu sei que consigo.
E se eu puder te dar um conselho de coração: não se abale por não ter uma rede de apoio pronta. Crie a sua!
• Uma sessão de terapia é rede de apoio.
• Um delivery de supermercado é rede de apoio.
• Alguém que limpa a casa e deixa comida pronta, é rede de apoio.
• Uma escolinha é rede de apoio.
Rede de apoio não precisa ser apenas mãe, sogra ou família. Se naquele dia que você mais precisou elas não puderam estar presentes, respira. Vai ter outro dia. Vai passar.
Eu ressignifiquei a palavra “rede de apoio”. Depois de quase dois anos, percebi que eu também precisava dela. Hoje, por exemplo, minha filha às vezes fica com os avós quando tenho um evento ou preciso viajar, mas no dia a dia continuo equilibrando meus pratinhos e fazendo a minha rede de apoio.
A diferença é que agora isso acontece de forma planejada, leve, tranquila e pontual. Aprendi a confiar, a deixar, e principalmente a usar essa rede sem culpa, porque ela existe para somar, não para pesar. Hoje, ela se encaixa naturalmente na nossa rotina.
(uau não acredito que consegui falar sobre ...)
Comentários